quinta-feira, 18 de março de 2010

Estranhas entranhas I

Eu não sei mais o que é saber ou acreditar porque tudo que eu sabia ou acreditava se foi e nada se salvou de mim.

Eu não sei mais até que ponto é você porque você pode ser tanto e tão pouco e como eu te vejo não é como você é mas sim como eu sou

e o que eu sou é tão problema

problema meu problema problema problemático matemático que só se multiplica e soma e some se se divide quando você chega

e chegou. Chegou?

Quem é? Quem bate à minha porta ao meu batente ao meu bate-bate-sangue-veias e suga tudo tão sanguessuga assim?

Bate espanca corta e sopra e beija pra aliviar a dor

"É que sou masoquista, do tipo que não se salva e só se fura e ainda curte um sado só pra satisfazer a dor alheia"

Adoraria lhe causar e fazer dor diária daria uma bela diarréia que arranca tudo que há em você e aí quer comer algo estragado?

Entranhar algo estranho pra desenteria que teria depois e se lembrar do que comeu todas as vezes que vomitar ou revirar ou evacuar aquele vácuo.

Entranhado?
Estranhamente

Com cheiro de podre?
Com cheiro de novo que engana de novo e mais uma vez vez fez faz fezes fato

E lambe o sangue que sugado já foi jorrado em meio a tanto jorro sem fim. Em mim?

Corpo Vísceras Sangue Bile Esperma espera que já volto

o que mais há de querer?

Como se ainda houvesse algo mais a se perder.



Perder?

sábado, 13 de março de 2010

Manual para Emanuel

Eu só queria dizer que sinto, sinto muito a sua falta. Não sou do tipo saudosista, que se alegra do que já acabou e ignora o que acontece enquanto a vida passa pela sua cara como se fosse qualquer merda aleatória. Não, não sou. Eu vivo muito, eu vivo, dentro de mim, enquanto os outros riem, mas sim, eu vivo. Vivo bastante, enquanto a vida passa, sabe? Não, não sabe, ninguém sabe. Mas eu sei. É o meu ouro de tolo. Eu sou a tola, claro que sou; me finjo de boba, de ingênua, de retardada síndrome de down down babe só pra te enganar que eu não entendo, mas eu vejo tudo, tudo o que você faz, tudo o que acontece, e é você me achando retardada e jurando que eu não percebo...
É assim, é sempre assim, mas eu também tenho o meu Emanuel que há de vir, o mesmo Emanuel que você jura que te salvou da merda de vida que você vive, porque não sei se você sabe, mas a sua vida é uma bosta, daquelas mais fedidas, cagadas, extremamente desprezíveis. Pois eu tenho o meu Emanuel, um Emanuel semelhante ao de Alice, o mesmo de quem Loris dava risada, o Emanuel de olhos verdes e do Mercedes branco, ou ao de Gênesis, ou ao do inferno, aquele Emanuel que há de vir e você veio. E eu sinto, sinto, sinto muito, sinto muito a sua falta. Mas e daí? E daí, e daí, Emanuel, você já não veio? E então você veio e eu me pergunto: e daí? E quando você for embora, Emanuel, o que eu vou fazer? Eu vou chorar? Mas eu não sou do tipo que chora, Emanuel, não sou. Aprendi a não chorar. Mas se você é o que há de vir, e quando você for? Me diz, me diz, por que não ensinam essas partes à gente, por que só nos ensinam a esperar, esperar, esperar, e aí vem, e aí eu sinto falta, porque você vai, você vai sim, assim como eu vou. E o que eu faço, Emanuel?
Agora você foi, e o que eu faço?

Eu só queria dizer que sinto, sinto muito a sua falta. Mas não sou do tipo que

terça-feira, 9 de março de 2010

Eu só queria que sentissem um terço disso que tivesse ideia do quanto doi porque dói sim dói se doar demais desse jeito e pra quê?

No fim é tudo a mesma merda você não tem nada não sobra nada e é só dor frustração daquelas que deixam a gente de cama e leva horas dias pra levantar porque mais nada faz sentido mas claro que voce tem que insistir e insistir ate rasgar tudo e doer e te matar porque né, isso é a vida.

domingo, 30 de agosto de 2009

Nicotina e podridão - II

Ela não largava o cigarro, embora pensasse nisso em todas as manhãs típicas de domingo. No entanto, lá estava o seu velho amigo: o único a acordar com ela e a dividir sua cama há meses. Decidiu que largaria, a tosse não estava mais suportável. Era como tentar colocar para fora algo estranhamente entranhado...
Sem sucesso, obviamente.
Sucesso... não reconhecia mais essa palavra. Não era só a cama que estava vazia. Mas era naqueles lençóis solitários que seu comportamento se refletia. Nada fora, nada dentro dela - em qualquer sentido possível. Acendeu mais um - o dia já estava totalmente fodido, foder sua garganta não seria tão mais grave assim. Se ao menos fosse fodida de outra forma...
Pensou em como sempre conseguia estragar tudo, mesmo quando essa era a última de suas intenções. Ela sabia que valia alguma coisa, talvez até mais que um maço de cigarros. Só estava difícil provar isso para ela mesma nos últimos tempos...
Pra certas coisas não há conserto. Quem sabe a sua vida não era apenas uma delas? Sem maiores mistérios: fora apenas um acidente sexual entre dois adultos que não se gostavam o suficiente pra se misturarem tanto a ponto de gerar outra pessoa. Uma doença venérea para a qual não houve cura. E então ela nascera, fim. E agora, o que fazer com tudo aquilo? "Foder com o que resta de esperança, é claro." E estragar todo o resto de merda que ainda a proporcionava alguns pequenos momentos de prazer. Lembrou do que conseguiu lembrar da noite anterior - grande bosta. Decidiu que voltaria a tomar seus remédios, retornaria aos exercícios, beberia menos e não chegaria mais perto do pó. Quanto ao cigarro... bem, alguma coisa precisava estar segura em suas mãos. Qualquer coisa. Se não podia ser sua vida, que fosse um amontoado de alcatrão e nicotina. Mas... não era exatamente esse o problema?
Não havia solução que viesse de fora para dentro - embora essa fosse uma excelente alternativa para sua cama vazia. No entanto, ali nada era definitivo. Nem a cor dos seus cabelos, nem todos os homens estúpidos pelos quais ela se apaixonava, nem o seu esmalte, nem o babaca aleatório que bancava suas cheiradas loucas.
Decidiu que o melhor era apenas deixar para lá. Não queria sair correndo de quartos estranhos, nem pedir mais desculpas por se comportar como uma puta quando queria ser tratada como dama. Não queria muita coisa. Mas essa era a sua natureza, como o tal escorpião. Ou seria uma escolha? Dessas que a gente não faz e quando se dá conta, simplesmente escolheram pela gente. "Impossível", ela pensou.
Mas muita coisa já estava impossível por ali.
Inclusive a sua vida.
Acendeu mais um cigarro e deixou-o queimando, enquanto se recordava do cheiro familiar de cabelo limpo. De qualquer forma, tudo o que restara ali fora o aroma de coisa estragada - que só ela sabia de onde vinha.